Iracema Chequer / Agência A TARDE / Arquivo
"Não adianta ficar discutindo o passado", diz Haroldo Rocha, do DEM-BA
 
43,2% dos eleitores de Salvador têm baixa escolaridade
Aguirre Peixoto, do A TARDE On Line
 
      O eleitorado de Salvador é composto por 43,2% de cidadãos com baixa ou nenhuma escolaridade, entre analfabetos (1,93%), analfabetos funcionais (que apenas lêem e escrevem – 9,3%) e gente que não completou o Ensino Fundamental (31,99%). Os dados são do último levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em dezembro de 2007. A escolaridade foi declarada pelos próprios eleitores no momento do cadastramento e, por isso, o órgão admite a possibilidade de defasagens.

A capital baiana, no entanto, encontra-se acima da média nacional de escolaridade do eleitorado, que totaliza 57% de eleitores com baixa ou nenhuma escolaridade. Na região Nordeste, o quadro é ainda pior, chegando o mesmo índice a 70,1%. Em toda a Bahia, a taxa é de 69,3%. Entre as capitais nordestinas, esse índice é o menor em Salvador, mas em comparação com as capitais de todo o País, a cidade tem a 12ª menor taxa.

Neste grupo de eleitores está a empregada doméstica Maria da Conceição, 30, que estudou apenas até a 4ª série. Questionada sobre para quem votou na última eleição, ela só se recorda do presidente Lula, mas não lembra o nome dos outros candidatos. E justifica: “Votei nele porque é uma pessoa boa, eu gosto dele”. Maria conta que, após a eleição, não continuou acompanhando seus candidatos. “Pra ganhar o voto eles vão em nossa rua, mas depois somem, assim a gente não lembra mais deles. Se continuassem indo...”.

Para o cientista político Jorge Almeida, a taxa de eleitores com baixa ou nenhuma escolaridade em Salvador pode ser considerada alta e traz conseqüências para o processo eleitoral. “A principal é o fato de que essas pessoas se expõem a fontes de informações limitadas, basicamente o rádio e a televisão”, analisa.

Almeida explica ainda que é importante o acesso a uma variedade de informações para que os eleitores possam avaliar melhor seus candidatos. A opinião do professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, Robert Verhine, converge com a do cientista político. “A educação relaciona-se com a capacidade de analisar e tomar decisões a partir de diversas fontes de informação”, diz.

Para Verhine, essa situação é conseqüência de uma quadro histórico de educação deficiente no País. O professor lembra, no entanto, a existência de muitas pessoas que, independentemente do nível de escolaridade, não dão importância ao processo eleitoral. “Mas é uma tendência mais preocupante quando há o baixo nível de educação formal”, opina.

Opinião de políticos – O deputado estadual e professor universitário Waldenor Pereira (PT-BA) argumenta que a consciência política não tem uma relação direta com o nível de escolaridade. “Conheço muitos analfabetos que possuem senso crítico da realidade”, diz. Para ele, essa influência é relativa, mas admite: “É evidente que a melhor escolaridade pode influenciar na politização da sociedade”.

O petista credita a baixa escolaridade do eleitorado baiano aos governos anteriores que, “ao longo de décadas no poder, não foram capazes de alterar esse quadro”, diz.

O deputado estadual Heraldo Rocha (DEM-BA), membro da comissão de educação da Assembléia Legislativa, rebate: “Já se passou um ano do governo de Jaques Wagner (PT). Não adianta ficar discutindo o passado, deve ser planejado o futuro”.

O democrata considera que o quadro não tem melhorado. “A greve dos professores e a falta de reposição de aulas, no ano passado, tornaram o ano letivo perdido na Bahia”, critica. Rocha considera que a melhoria na educação da população reflete em sua maior participação e cobrança na política.


Imediatismo do voto

O cientista político Jorge Almeida divide o eleitorado em dois tipos: aqueles que votam baseados em valores dos seus candidatos, como critérios morais e religiosos, e outros que decidem de forma mais pragmática, votando com o pensamento nas vantagens imediatas que podem ser obtidas. Mas, ele ressalva, o primeiro grupo também não está imune a votar de modo imediatista, só que há nele a maior possibilidade de pensar em resultados a médio e longo prazo.

“Já este segundo grupo estaria mais vulnerável à influência de políticas assistencialistas e compra de votos”, explica. Segundo ele, há a tendência de que as pessoas com baixa escolaridade façam parte deste grupo. “Mas, na verdade, não quer dizer que os eleitores com alta escolaridade votem melhor”, diz o cientista.

O professor Robert Verhine alerta também para as indicações políticas, que podem afetar gente com todos os níveis de estudos. “Membros de um partido ou de uma igreja, por exemplo, podem aceitar um candidato indicado pela cúpula sem maiores questionamentos”, afirma.

2008 é ano de eleições municipais e, para Verhine, o que todos os eleitores devem fazer é “se preparar através de diversas fontes de informação e sempre duvidar dos candidatos antes de tomar uma decisão final”.

Procurado até o fechamento desta matéria, o secretário interino de Educação de Salvador, Cláudio Silva, não foi encontrado para comentar a situação de escolaridade do eleitorado em Salvador.

 
 
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