São
João 2017, Ipirá, Bahia, Brasil. Muito
forró, sertanejo e mijação. Nem todo município
tem condições de fazer um grande evento;
alguns o fazem para causar viva impressão
e, às vezes, conseguem.
Praça da Bandeira, em todas as noites
principais do festejo junino, uma multidão
palmilhava e espremia-se na praça. Duas
adolescentes, aparentando 14 ou 15 anos
de idade, andavam sem rumo certo e sem
uma certeza firme em busca de um lugar
mais escondido, mais sombrio, mais recuado,
menos povoado e com menos passantes, para
não serem vistas, procurando privacidade
em praça aberta e movimentada. Posicionaram-se
entre os carros, uma baixou o short para
mijar na calçada, a outra vigiava. Um
ato profundamente íntimo realizado sem
a devida dignidade. Foram várias mulheres
nessa situação.
Observe a situação de extrema vulnerabilidade,
exposição indevida e de risco em que foram
colocadas as adolescentes que compareceram
ao festejo junino de Ipirá. Condicionadas
a atitudes sem pudor, reserva e segurança.
Desse jeito mesmo; desprotegidas e inseguras
devido à precariedade do conjunto das
instalações necessárias às atividades
humanas, que foram colocadas à disposição
das pessoas. Quem se compromete a realizar
e organizar grandes eventos tem que ficar
atento para estas questões. Quem está
na obrigatoriedade legal da defesa dos
jovens e adolescentes tem que exigir e
cobrar o cumprimento de tais demandas.
Foram muitas mulheres e homens mijando
na calçada. Isso não é um sinal civilizacional,
comum, normal e humanamente digno. O grande
evento, como gosta o prefeito Marcelo
Brandão, é sempre simbolizado, propagandeado
e vendido como ‘tudo na vida’, como a
‘salvação do município’, mas a falta de
condições, organização e eficácia demonstraram
a nosso atraso de civilização. A prefeitura
colocou sanitários químicos é bem verdade,
não sei se na quantidade suficiente para
uma festa de dez mil pessoas.
Às vezes, é necessário até uma reflexão
mais apurada para o entendimento das ações
humanas. Ainda nos festejos juninos. na
Praça da Bandeira, no passeio do jardim,
em frente a minha residência, tinha um
caminhão parado, que virou ponto de mijação
masculina. Eu fico refletindo sobre a
capacidade ilimitada do raciocínio humano,
que chega ao ponto de olhar e perceber
num caminhão um sanitário químico. É uma
capacidade impressionante. Para entendermos
a capacidade dessa inteligência impar,
jamais, em momento algum, essa inteligência
enxergará num sanitário um caminhão.
E aquela inteligência que achou que o
melhor lugar para mijar era dentro da
casa da minha vizinha, se posicionou na
grade e eu falei: “Você vai mijar aí?”
Ele respondeu: “Quem não gostar que dê
seu jeito!”. Era um caso de delinqüência,
uma inteligência conturbada.
Certa feita, num Sete de Setembro, chegaram
a essa terra do Ipirá duas jovens suecas
e o que mais deixou-as impressionadas
foi quando viram um casal de cachorro
engatado em plena Praça da Bandeira, o
Marco Zero da cidade. Nunca tinham visto
cachorra no cio, nem pelo canal Discovery.
Acharam o máximo. Na Suécia ninguém caga,
nem mija na rua e é considerada o paraíso
de libertinagem. Não é pertinente comparar
Ipirá com Estocolmo, são dois mundos completamente
diferentes.
Agora que Ipirá é exótico, isso ninguém
pode negar. Cachorro em Ipirá caga no
passeio do jardim e mija em poste. É normal
e natural. Certa feita, no tempo do ex-prefeito
Diomário, a grama do jardim estava alta,
na altura do joelho, eu trouxe um carneiro
para aparar a grama e contribuir com a
administração. Vixe, Nosso Senhor Jesus
Cristo! Foi um ‘Deus nos acuda’ o preposto
da prefeitura se aproximou e disse-me:
“Se você não tirar esse carneiro do jardim,
eu vou lhe quebrar todo no cacetete e
ainda vou chamar a polícia!” Tem muita
autoridade na prefeitura.
Neste São João 2017, 6h da manhã, o carro-tanque
fazia a sucção dos sanitários químicos.
O Poder Municipal mostrava eficiência.
Os passeios e o calçamento em frente às
casas continuaram com as poças e uma fedentina
de mijo insuportável. Tudo isso aconteceu,
não por causa da incompetência da gestão
atual, mas por um fato muito simples:
a Praça da Bandeira não tem condições
de suportar grandes eventos e em Ipirá
não tem áreas apropriadas e em condições
de atender a mega eventos. É isso que
a inteligência oficializada não procura
entender e eu não consegui fazer a correção
do título, por isso, mijonas ficou sem
o s. Tudo é exótico.
Autor: Agildo Barreto
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