De
acordo com dados do Programa Saúde da Família
(PSF), a população rural de Conquista,
município de 308 mil habitantes, é
de 63 mil moradores. A situação é
mais crítica em Bate-Pé, distrito
a 40 km do centro da cidade. No caminho para a localidade,
uma cena dramática. Sem forças para
ir em busca de água e alimento, o animal
padece de fome e sede e morre aos poucos, caído
num leito seco de um rio sob a ponte de acesso ao
distrito.
Na
maioria das demais localidades, a seca prolongada
aflige animais e pessoas desde junho. Sem água
para o gado bovino, os pequenos criadores são
obrigados a tocar o rebanho pelo estradão,
percorrendo mais de seis quilômetros, ida
e volta, todos os dias. Para aliviar o sofrimento
do sertanejo, carros-pipas a serviço do Exército
e da prefeitura cruzam o solo árido para
abastecer tonéis, tanques e reservatórios
em 80% das residências da zona rural.
A
água tratada é objeto de disputa de
homens, mulheres e crianças. "A gente
recebe 20 litros, mas só dá para três
dias", conta o lavrador Valdenor Pereira Borges,
45. A água é utilizada moderadamente
na pequena casa onde moram o lavrador e cinco filhos.
"Quando acaba a gente vai pedir à vizinha,
que tem um reservatório grande, mas nem sempre
ela fornece", explica.
Assim
que a seca começou a mostrar sua força,
a prefeitura firmou convênio com a Coordenação
de Defesa Civil do Estado (Cordec) para construção
de 31 aguadas e cinco barragens de porte médio.
O projeto, celebrado em julho, e orçado em
R$ 600 mil está em andamento.
Casas
abandonadas, aguadas secas e estradas intransitáveis
significam que a ajuda veio tarde para muitas famílias.
Na pressa em deixar o torrão natal, deixaram
para trás escombros em adobe (tijolo cru)
e até o padrão de energia elétrica
marcando apenas 61 watts de consumo.
Nem
mesmo o mandacaru (planta das mais características
da caatinga nordestina e que serve de alimento ao
gado na seca) resiste ao sol inclemente. Centenas
deles secaram e se confundem com a sequidão
do povoado de Lagoa de João Morais. Lagoa
só no nome, porque a única fonte de
água que chega ao lugar vem em tanque de
carro-pipa.
A
poucos quilômetros dali, o vaqueiro Tibúrcio
Ribeiro de Queiroz, 56 anos, toca umas cabeças
de gado para a aguada mais próxima. "Fica
retirado três quilômetros de casa",
informa. "O pasto acabou e só tem um
pouco de água. Comida mesmo que resta é
só a palma cortada, mas está escassa
também". A rotina do sertanejo dura
três meses, mas seu sofrimento remonta mais
tempo. "Choveu um pouco no começo de
fevereiro, depois nada mais", conta o paciente
vaqueiro, que perde alguns minutos na viagem para
resgatar um bezerro desgarrado que, sedento, sacia
a vontade numa poça de água e lama.
Na mesma região as constantes queimadas ampliam
o drama da seca.
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