Brasília
- O consumidor brasileiro que compra produtos falsificados
não só tem consciência do que
ele compra e dos riscos e prejuízos da pirataria,
bem como sabe da sonegação de impostos
que o comércio desses bens envolve e da associação
desse tipo de comércio ao crime organizado.
Quem compra produtos piratas, ao ser questionado
sobre o porquê de sua atitude, já tem
prontos todos os argumentos para justificar a sua
opção.
As
constatações fazem parte de pesquisa
realizada pelo Instituto Akatu, em parceria com
a Microsoft, sobre a relação do consumidor
com a pirataria. O estudo foi apresentado hoje (29),
em Brasília, no Ministério da Justiça.
Os
principais argumentos apresentados pelos consumidores
na pesquisa foram o melhor custo benefício
- já que os preços são mais
baixos - a desconfiança sobre a destinação
dos impostos pagos em caso de produtos originais,
a opinião de que artistas e fabricantes já
são ricos demais e não são
prejudicados pela venda de CD's e DVD's piratas,
além da intenção de ajudar
o camelô que vende os produtos.
Agora,
o estudo vai servir de base para mudanças
nas ações do Conselho Nacional de
Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade
Intelectual. O presidente do conselho e secretário-executivo
do ministério, Luiz Paulo Barreto, explicou
que, além da repressão que já
é feita contra o comércio de produtos
piratas, o governo vai focar suas ações
na conscientização sobre a questão
ética envolvida no consumo de falsificados.
“Nós
precisamos, ainda, envolver o consumidor e conscientizá-lo
desse malefício para que qualquer campanha
tenha êxito e reverta esse quadro no Brasil”,
afirmou. De acordo com ele, enquanto houver demanda,
vai sempre existir alguém vendendo produtos
pirateados.
A
pesquisa traz várias orientações
para novas campanhas. Inicialmente, o tema tratado
não deve ser diretamente a pirataria, uma
vez que a população não se
interessa por esse tema especificamente. O ideal
seria tratar da ética de forma mais abrangente,
ressaltando o impacto que pequenas ações,
ainda que aparentemente isoladas, podem ter na sociedade,
como a falsificação de carteiras de
estudante ou dar uma “caixinha” para
um guarda.
Além
disso, sugere-se evitar um tom acusatório
e convidar o consumidor a mudar suas atitudes, mostrando
que a permissividade dos brasileiros está
passando da conta e criando uma imagem de um povo
desonesto e, muitas vezes, violento.
Barreto
ressaltou que também é preciso atuar
para mudar a imagem do governo, a fim de dar mais
confiança às pessoas quanto à
aplicação dos impostos pagos no consumo.
Agir
no aspecto econômico também é
importante, fazendo com que a indústria ofereça
opções de menor custo, para permitir
à população de baixa renda
o acesso ao consumo.
Para
o representante da indústria de softwares
no Conselho Nacional de Combate à Pirataria
e coordenador do Grupo de Trabalho Anti-Pirataria
da Associação Brasileira das Empresas
de Softwares (Abes), Emílio Munaro, essa
é uma ação possível
e necessária.
Um
exemplo que ele cita de ação bem sucedida
é a chamada MP do Bem, editada em 2006, que
possibilitou a venda de computadores com incentivo
fiscal, fazendo os preços baixarem. “Só
no ano passado, nós tivemos uma injeção
de mais de 13 milhões de novas máquinas
no mercado; neste ano, se espera uma injeção
de 14 milhões de novas máquinas”,
informou.
No
entanto, Munaro disse que só o governo baixar
impostos não é o suficiente. “É
importante também que as empresas possam
levar esse impacto desse benefício até
a ponta final, que é o usuário, para
que ele possa ter a vantagem de adquirir um produto
num custo mais baixo”, defendeu.
Segundo
números do Ibope, em 2006, cerca de 75% da
população consumia produtos pirateados.
Entre pessoas de 16 a 24 anos, esse índice
chegava a 81%. Em todo o mundo, a pirataria movimenta
cerca de US$ 522 bilhões, contra US$ 360
bilhões movimentados pelo narcotráfico.
Os produtos mais falsificados são CDs, DVDs,
roupas, calçados, óculos, programas
para computador e medicamentos.
No
Brasil, a estimativa do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais
da Receita Federal (Unafisco) é de que, por
ano, R$ 30 bilhões deixem de ser arrecadados
em impostos. Dados da Universidade de Campinas (Unicamp)
indicam que dois milhões de postos de trabalho
deixam de ser criados no mercado formal, devido
à prática do comércio ilegal.
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