Para
contentar o governo, provavelmente dentro da sua
estratégia política eleitoreira, os
pobres brasileiros foram galgados à condição
de classe média.
De
acordo com a Fundação Getúlio
Vargas (FGV–RJ) e empresas de pesquisa, descobriu-se
que quem ganha entre R$ 1.064,00 e R$ 4.591,00 —
o que passa a representar quase 52% da população
atual — pertence à classe média.
Existe, sim, uma melhora no padrão de vida
do brasileiro, mas elevá-los a tal categoria
é um pouco de pretensão. Segundo um
jornal carioca, a notícia provocou reação
em Vila Kennedy – bairro de 200 mil habitantes,
na zona oeste do Rio -, onde a maioria dos moradores
se revoltou, pois tem consciência de que pertence
à classe pobre e, não, à média
como define este novo estudo. Não é
preciso ser economista para perceber este engodo.
Basta
uma conta rápida, envolvendo custos de moradia
(aluguel ou prestação da casa própria)
escola, supermercado, água, luz, gás,
telefone, transporte, plano de saúde, remédios,
vestuário, os famigerados impostos e outras
necessidades básicas, para que qualquer responsável
por uma família possa perceber a mentira
desta conclusão sobre o que vem a ser a classe
média. Isso sem levar em conta prestações
de bens necessários, carro popular, canais
de televisão a cabo, um pouco de lazer e
os extras que sempre aparecem. O próprio
responsável pela pesquisa, o economista Marcelo
Nery, declarou: “O limite que define as faixas
de cada classe concordo que é arbitrário,
é uma simplificação. Porém
o tamanho desta classe ou a forma como ela é
definida é o menos importante, o mais importante
é que está havendo um crescimento
dela.”
Pergunto
eu, como advogada: Se os limites são arbitrários
e, portanto não revelam a realidade, por
que foram divulgados e estipulados valores para
a divisão das classes sociais? Será
que quem definiu estas novas hierarquias nunca levantou
e somou os custos dos itens citados acima neste
artigo? Pelos novos índices demarcatórios
tenho certeza que não, pois qualquer dona
de casa das mais simples sabe que, com os valores
definidos, classe média ela nunca será.
O único muito feliz com este dado mascarado
é o próprio governo, pois agora terá
um forte argumento para se apoiar, graças
aos marqueteiros de plantão, nas suas eternas
pretensões eleitoreiras — aliás,
a única competência verdadeira que
ele tem.
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Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável
pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São
Paulo. E-mail: sylviaromano@uol.com.br.
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