Prefeito é preso durante “sexta do terror”
Evandro Matos, 05-07-2008
      Sob um clima tenso, o Pleno do Tribunal e Justiça da Bahia, em sessão extraordinária realizada ontem à tarde, decretou a prisão do prefeito de Ubaitaba, a 350 km de Salvador, Asclepíades de Almeida Queiroz (PMDB). O fato aconteceu por volta das 14 horas, logo após o julgamento da ação penal originária em que o mesmo é réu. A prisão aconteceu em flagrante, ordenada pela presidente do TJ-BA, desembargadora Silvia Zarif, no momento em que Queiroz tentava fugir do Plenário pelos elevadores do prédio.
      O flagrante da prisão foi precedido por uma cena que gerou uma grande expectativa entre os que estavam presentes no Pleno do TJ-BA. No momento em que transcorria a votação para decidir sobre a manutenção da decisão anterior - que decidiu pelo afastamento de Queiroz pelo prazo de 90 dias e decretou a sua prisão cautelar -, percebendo que o resultado não lhe era mais favorável, o prefeito, que estava sentado no fundo do salão da Corte, saiu discretamente do local. Comunicada do fato, a desembargadora Silvia Zarif reagiu prontamente.
      “Fui comunicada que o prefeito se ausentou deste Plenário, tentando fugir. Mas ele não pode fazer isso, tem que aguardar o resultado. Por isso, eu já ordenei que a polícia o traga de volta e, se for confirmado o seu pedido de prisão, acontecerá de imediato”, ordenou.
     Se o ambiente já estava quente, a decisão da presidente do Tribunal causou mais tensão ainda. No final do julgamento, foi confirmado o afastamento do prefeito Asclepíades Queiroz enquanto durar a instrução do processo, por unanimidade, e decretada a sua prisão pela maioria “por procrastinar, desobedecer e debochar a Justiça”, conforme relato no momento de anunciar o voto pela maioria dos desembargadores.
       A prisão do prefeito de Ubaitaba, Asclepíades de Almeida Queiroz (PMDB), pode servir de exemplo para os inúmeros casos que se arrastam na justiça baiana sem que ela consiga avançar nas investigações. Segundo a ação penal ordinária que responde, Queiroz é acusado de tentar anular irregularmente um concurso público realizado no município, e ter desobedecido a Justiça em várias oportunidades para não contratar os aprovados. Segundo o Procurador-geral de Justiça do Ministério Púbico baiano, Lidivaldo Brito, o caso se arrasta desde 2001, mas o prefeito vinha dificultando o trabalho da Justiça.
       Com formação superior, Asclepíades Queiroz exercia a função de Auditor Fiscal do Estado antes de assumir o comando da prefeitura de Ubaitaba. Segundo informações do TJ-BA, ele foi levado no final da tarde de ontem para a sede da Polinter, na Piedade.
       Uma moradora de Ubaitaba, que não quis se identificar, disse que o clima na cidade é muito tenso. “É que é ano eleitoral, e muitos não aceitam a situação. Eu não queria a prisão do prefeito, mas ele vacilou demais”, disse. Queiroz já foi reeleito e agora vai apoiar Alexandre Negri de Almeida (PMDB), seu primo, que disputará a eleição contra Cláudio Bidu (PP) e Clea Lemos (PR). (Por Evandro Matos)


Discussões antecederam julgamentos

      A sessão extraordinária desta sexta-feira foi marcada pelo clima de tensão. As polêmicas foram suscitadas desde cedo, havendo até desentendimentos entre alguns desembargadores. A sirene precisou ser acionada várias vezes para que os ânimos fossem contidos. Mesmo que o seu julgamento tenha se concluído apenas no meio da tarde, o prefeito Asclepíades Queiroz foi o grande pivô da mais emocionante “sexta-feira do terror” realizada pelo TJ-BA até aqui. Julgado e punido com afastamento e pedido de prisão cautelar na sessão de 6 de junho último, Queiroz compareceu no dia 19 deste mesmo mês ao gabinete do desembargador Rubem Dario, relator do processo. A visita resultou na concessão de uma liminar, que suspendia os efeitos do pedido de prisão decretado pelo Pleno do TJ-BA.
        Foi justamente esta decisão que gerou toda a polêmica. Mesmo sem estar na pauta do dia, a decisão voltou a julgamento na sexta-feira, gastando horas de debate entre os desembargadores antes mesmo que fosse a votação. A principal dúvida era saber se a decisão do desembargador Rubem Dario tinha ou não poder para revogar a anterior, decretada pelo colegiado do Tribunal. O ponto alto da discórdia aconteceu quando o desembargador José Olegário Monção Caldas disse que “o magistrado não pode agir com tibieza nestes casos”. A declaração provocou reação no desembargador Rubem Dario, que exigiu, sob ameaça de uma ação, que o termo fosse retirado. Os ânimos só se acalmaram quando o desembargador José Olegário declarou que a sua referência foi em relação às decisões do Tribunal.
       Mas quem primeiro havia se rebelado contra a decisão tomada pelo desembargador Rubem Dario em relaxar o pedido de prisão contra o prefeito de Ubaitaba foi a desembargadora Sara. “É inadmissível que qualquer relator revogue no seu gabinete uma decisão do Tribunal”, disse ela, esquentando mais ainda o clima. Entre tantas discussões e polemicas, os desembargadores avaliaram ainda se as decisões sobre o julgamento dos prefeitos teriam validade ou não independente de eles serem intimados da ação.
        Por maioria, ficou decido a dispensa da intimação do réu, bastando que a decisão do Tribunal seja publicada no Diário Oficial da Justiça e comunicada ao presidente da Câmara de Vereadores do município. O procurador-geral de Justiça do Mistério Público baiano, Lidivaldo Brito, também denunciou os abusos cometidos pelos prefeitos e falou sobre o assunto. “Não há necessidade de intimação pessoal. Basta apenas publicar no Diário Oficial. Os prefeitos estão procrastinando para não receber a denúncia. Vários processos estão sendo adiados por conta disso”, denunciou. “Acho inadmissível numa cidade pequena um prefeito não ser localizado”, protestou o desembargador Carlos Alberto Dutra Cintra. (Por Evandro Matos).

 
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